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Esse cara de preto aqui no canto da foto, de costas, sou eu! |
Parecia um dia comum. Acordei, tomei banho, enverguei uma roupa comum (camiseta e calça jeans), preparei a mochila e sentei-me em um banquinho para calçar os tênis. Depois, fiz que me levantaria, mas continuei sentado. Suspirei e olhei para minha esposa, que estava me esperando para se despedir. Ela me deu força; realmente eu não estava com quase nenhuma energia para passar mais um dia de trabalho. Após um caloroso beijo, respirei fundo e pus-me a caminho.
Ônibus, metrô, baldeação, metrô, ônibus. Uma hora de caminho, tendo como companhia "Os Três Mosqueteiros", de Alexandre Dumas. Enfim, eu havia chegado. Era dia 30 de março, eu estava pronto para começar mais um expediente. E, para quem não me conhece, trabalho no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, mais especificamente no Fórum Regional XV - Butantã, na zona oeste da capital paulista.
Coloquei a indisposição de lado, como sempre faço quando assim estou, e comecei a trabalhar. O rendimento estava normal para um dia comum, processos, liminares, alvarás, guias, ofícios, despachos, sentenças. O trabalho no gabinete de uma juíza de Vara de Família e Sucessões não pára, e é um caso mais complexo que o outro. Quanto mais complexo, mais atenção, e quanto mais atenção, mais trabalho e esforço. E quanto mais trabalho e esforço, menos energia.
Pausa. Hora do almoço, para relaxar, conversar com os colegas, e, principalmente, comer.
Voltei do almoço. Na sala de audiências, uma audiência deu início para tratar sobre pensão alimentícia. No gabinete, onde trabalho, retomei minhas atividades. Foi quando olhei o celular e vi algumas mensagens no WhatsApp. Comecei a respondê-las, mas, no meio de uma frase, ouvi um estampido e um barulho de vidro se espalhando pelo chão. Gritos, mas não eram de pânico. Na verdade, parecia mais com dois homens brigando.
De repente, pela porta do gabinete, eu vejo uma multidão correr desesperada. Muitas pessoas entraram onde eu estava e, sem entender, eu me levantei. Fecharam a porta e disseram, desesperadas: "Estão atirando em todo mundo!". Então, encaminhei todos para a sala de audiência, que tinha mais espaço (o gabinete é anexo à sala de audiência). Todos para o chão, advogados, partes, escrevente de sela, eu, minha juíza, e todos que entraram no gabinete.